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Categoria: Francisca Alvarenga-pt

A Ilha em Filmes e Séries Televisivas de Terror Paranormal Norte-Americanas e Inglesas nos Séculos XX e XXI

[Em Cinema, Terror]: Apesar de estar amplamente presente em filmes e séries televisivas de terror, a ilha enquanto objecto de terror carece ainda de estudos aprofundados. Nos séculos XX e XXI, a ilha tem vindo a ser palco de inúmeros filmes e séries televisivas de terror. Mais especificamente, a ilha é frequentemente representada como o sítio onde o terror se desenrola, mas raramente é a fonte de terror em si. Contudo, existem alguns exemplos notáveis onde é a própria ilha que representa o terror, quer por causa dos seus habitantes, como é exemplo Doomwatch (Sasdy 1972) ou The Wicker Man (Hardy 1973), quer por causa da sua fauna e flora, como, por exemplo, Jaws (Spielberg 1975) e The Bay (Levinson 2012). As características que a ilha evoca podem ser lidas num binário. Em vez de representar um paraíso privado, estas ilhas geralmente representam a reclusão individual ou de grupo, que propicia a necessidade de sobrevivência. A ilha funciona, frequentemente, como a representação do afastamento daquilo que é considerado uma sociedade ‘normal’ e da incapacidade dos/as personagens de a encontrar em segurança, o que está geralmente relacionado com a ideia do sobrenatural, como são exemplos Blood Beach (Bloom 1981), The Woman in Black (Watkins 2012), uma adaptação do livro homónimo de Susan Hill (1983), e Sweetheart (Dillard 2019), ou de loucura, por exemplo, Shutter Island (Scorsese 2010) ou The Lighthouse (Eggers 2019). A ilha também evoca sentimentos de encarceramento, recursos limitados, formas de vida estranhas ou alienígenas. Representa, também, um lugar onde a privacidade pode significar o velar do terror ao exterior, como por exemplo Midnight Mass (Flanagan 2021), que evoca o terror religioso, que é contido e mantido em segredo do resto do mundo precisamente por se desenrolar numa ilha, ou Fantasy Island (Wadlow 2020), onde a noção de ilha paradisíaca e idílica é subvertida no seu oposto distópico. A ilha em filmes de terror tem vindo a ser estudada a partir de uma perspectiva pós-colonial (Williams 1983; Martens 2021), uma perspectiva particularmente interessada em filmes Norte-Americanos e Ingleses, que desenvolvem a sua produção em ilhas estrangeiras, nomeadamente ilhas que não são europeias ou de maioria branca, focando-se, por exemplo, na representação de religiões e práticas Afro-Caribenhas e na figura do zombie. A ilha e o terror também são estudados sob a lente do isolamento diabólico e enquanto local para experimentação científica, como The Island of Lost Souls (Kenton 1934), uma adaptação do The Island of Dr. Mureau de H. G. Wells (1896), e como sítio de criação e/ou encobrimento, como é exemplo o estudo sobre as ‘ilhas Nazis’ desenvolvido por Sedgwick (2018). Contudo, parece ser na Austrália que o estudo da ilha enquanto sítio de terror produz mais frutos, sobretudo estudos sobre a ‘Ozploitation’, isto é, filmes que exploram a paisagem insular australiana enquanto produto da colonização e da desconexão continental (Simpson 2010; Culley 2020; Ryan e Ellison 2020).

M. Francisca Alvarenga

Bibliografia:

CULLEY, NINA. “The Isolation at the Heart of Australian Horror.” Kill Your Darlings, Jul-Dez 2020, 2020, pp. 263-265. Informit, search.informit.org/doi/10.3316/informit.630726095716522.

MARTENS, EMIEL. “The 1930s Horror Adventure Film on Location in Jamaica: ‘Jungle Gods’, ‘Voodoo Drums’ and ‘Mumbo Jumbo’ in the ‘Secret Places of Paradise Island’. Humanities, vol. 10, no. 2, 2021, doi:  10.3390/h10020062.

RYAN, MARK DAVID, AND ELISABETH WILSON. “Beaches in Australian Horror Films: Sites of Fear and Retreat.” Writing the Australian Beach. Local Site, Global Idea, editado por Elisabeth Ellison e Donna Lee Brien. 2020. Cham: Palgrave Macmillan.

SEDGWICK, LAURA. “Islands Of Horror: Nazi Mad Science and The Occult in Shock Waves (1977), Hellboy (2004), And The Devil’s Rock (2011).” Post Script, special issue on Islands and Film, vol. 37, no. 2/3, 2018, pp. 27-39. Proquest, www.proquest.com/openview/00ccdba578653d3fe1a5b2e7b5bfb0b5/1?pq-origsite=gscholar&cbl=44598. Acedido a 27 Janeiro, 2022.

SIMPSON, CATHERINE. “Australian eco-horror and Gaia’s revenge: animals, eco-nationalism and the ‘new nature’.” Studies in Australasian Cinema, vol. 4, no. 1, 2010, pp. 43-54, doi: 10.1386/sac.4.1.43_1.

WILLIAMS, TONY. “White Zombie. Haitian Horror.” Jump Cut: A Review of Contemporary Media, vol. 28, 1983, pp. 18-20. Jump Cut, www.ejumpcut.org/archive/onlinessays/JC28folder/WhiteZombie.html. Acedido a 27 Janeiro, 2022.

Filmografia:

Blood Beach. Realizado por Jeffrey Bloom, The Jerry Gross Organization, 1981.

Doomwatch. Realizado por Peter Sasdy, BBC, 1972.

Fantasy Island. Realizado por Jeff Wadlow, Columbia Pictures, 2020.

Jaws. Realizado por Steven Spielberg, Universal Studies, 1975.

Midnight Mass. Realizado por Mike Flanagan, Netflix, 2021.

Shutter Island. Realizado por Martin Scorsese, Paramount Pictures, 2010.

Sweetheart. Realizado por Justin Dillard, Blumhouse Productions, 2019.

The Bay. Realizado por Barry Levinson, Baltimore Pictures, 2012.

The Island of Lost Souls. Realizado por Erle C. Kenton, Paramount Pictures, 1932.

The Lighthouse. Realizado por Max Eggers, A24, 2019.

The Woman in Black. Realizado por James Watkins, Hammer Film Productions, 2012.

Wicker Man. Realizado por Robin Hardy, British Lion Films, 1973.

Leituras Adicionais

CHIBNALL, STEVE, AND JULIAN PETLEY (eds.). British Horror Cinema. British Popular Cinema. 2002. Londres e Nova Iorque: Routledge.

HUTCHINGS, PETER. Hammer and Beyond: The British Horror Film. 1993. Manchester e Nova Iorque: Manchester University Press.

—. Historical Dictionary of Horror Cinema, 2ª edição. 2018. Londres: Rowman & Littlefield.

—. The A to Z of Horror Cinema. 2009. Lanham, Toronto, Plymouth: The Scarecrow Press.

LEEDER, MURRAY. Horror Film. A Critical Introduction. 2018. Nova Iorque, Londres, Oxford, New Delhi, Sydney: Bloomsbury.

SMITH, GARY A. Uneasy Dreams: The Golden Age of British Horror Films, 1956-1976. 2000. Jefferson, North Carolina, e Londres: McFarland & Company.

WALLER, GREGORY A. (ed.). American Horrors. Essays on the Modern American Horror Film. 1987. Urbana e Chicago: University of Illinois Press.