A limitação territorial das ilhas faculta maior consciência dos limites dos seus recursos face à sobreexploração turística. Na bibliografia crítica, no entanto, identificam-se duas tendências quase opostas: a dos que detetam os riscos de sobreexploração turística das ilhas, e a dos que identificam no turismo uma possibilidade de desenvolvimento que a insularidade pode travar para outras indústrias turísticas. O conceito de “resiliência” é frequentemente discutido como uma virtude específica que permitiria suportar a pegada social e ecológica do turismo mais do que outros ambientes e diversificar o conhecimento necessário para se sustentar com seus próprios recursos (McLeod; Dodds, Butler 2021). A necessidade de “apoiar” esta pegada, mesmo quando ameaça o equilíbrio social, ecológico e cultural do ambiente, está relacionada com a possibilidade de “desenvolvimento” de ambientes que não têm conseguido, pela sua condição periférica ou remota, tornar-se industrializados. Segundo Dimitrios Buhalis (1999), o turismo reduziria a capacidade de prosperidade – prosperity gap – entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Este decréscimo poderá ter como contraponto, admite ainda, a desigualdade no acesso ao capital gerado pelo turismo quando a maioria dos residentes participa apenas na riqueza turística proveniente de ocupações laborais precárias, próprias ou, em geral, condicionadas pelas multinacionais que influenciam a procura turística, o acesso à ilha e até – se o poder político o permitir – o seu ordenamento e acessibilidades. Visões um pouco mais matizadas e críticas são as de quem considera a fragilidade de muitos ecossistemas insulares submetidos a um grande desgaste de recursos – por exemplo, a água – devido à chegada massiva de visitantes. Ao considerar o impacto das mudanças climáticas nos ambientes turísticos insulares, a partir do caso particular de Malta e Mallorca (Calvià), Rachel Dodds e Ilan Kelman (2018) propõem diferentes planos de ação necessários para proteger os ambientes para que sejam seguros para o turismo, mas sem questionar como o turismo, de facto, também contribui para as mudanças climáticas e a degradação natural de muitos dos ambientes em que ocorre. A sustentabilidade, assim, é deste modo definida não apenas como uma necessidade da prática turística em relação ao território em que se insere, mas como uma estratégia que permite a adaptação às mudanças provocadas, entre outros fatores, pela própria prática turística.
Referências:
Buhalis, Dimitrios (1999). “Tourism in the Greek Islands: The issues of peripherality, competitiveness and development”, International Journal of Tourism Research, 1(5), 341-359.
Dodds, Rachel, i Kelman, Ilan (2008). “How climate change is considered in sustainable tourism policies: A case of the Mediterraneal Islands of Malta and Mallorca”, Tourism Review International, 12, 57-70.
NcLeod, Michelle, Dodds, Rachel, and Butler, Richard (2021). “Introduction to special issue on island tourism resilience”, Tourism Geographies, 23: 3, 361-370.